Buenas pessoal, todos em paz?!
Havia prometido continuar a última história, mas alguns contratempos e a correria pra ganhar o pão de cada dia atrasaram um pouco meus planos (vale dizer que desempregado é aquele que não tem emprego, o que não quer dizer que eu não tenha trabalho hehehehe). Pois então vamos ao que interessa, comentei que havia notado algo diferente na moto após efetuar as compras no free-shop na fronteira Chuy (Uruguai)/Chuí (Brasil), isto já no final da tarde, sendo que minha intenção era seguir até Camaquã para passar a noite na casa de uma tia. De volta a estrada visualizei a placa que identificava a fronteira entre os dois países, lembrando que havia ingressado por outra fronteira (Jaguarão/Rio Branco), e resolvi voltar alguns metros para fotografar a placa, fiz um registro só da placa, arranquei com a moto e novamente senti algo diferente, julgando ser a areia solta do acostamento, atravessei a rodovia, fiz outro registro incluindo a moto junto à placa e ao sair novamente com a moto identifiquei o problema... pneu furado! Visualizei uma unidade do Corpo de Bombeiros ainda no lado uruguaio, busquei informação de onde havia uma borracharia, que no castelhano se chama "gomeria", e segui empurrando a motoca com toda a bagagem - e compras - por alguns metros, contorna aqui, contorna acolá e encontrei a bendita gomeira, um barraco simples, com piso de terra e apenas um sujeito trabalhando com diversos clientes aguardando. Parei a moto e enquanto não chegava minha vez de ser atendido fui informado que o outro funcionário acabara de se machucar numa tarefa simples do ofício, mas que por alguma questão que não sei informar se houve falta de atenção ou de prática, levou-o a atingir o supercílio, com aquela sangria típica dos confrontos do lendário Rocky Balboa. O camarada iria afrouxar a porca do eixo de uma moto de trilha, e ao invés de fazer força empurrando a chave na posição horizontal em direção ao solo ele fez força puxando a chave na posição vertical, na sua direção, o que fez com que a ferramenta escapasse do seu controle, quase o levando a nocaute. Pois bem, só me restava aguardar. Neste instante contava a um senhor sobre a minha viagem e que pretendia seguir logo em seguida para passar a noite em Camaquã, porém este senhor era caminhoneiro e me alertou sobre o risco de percorrer o trajeto que corta a Reserva do Taim à noite, pelo perigo de atingir algum animal que eventualmente atravessa a pista, especialmente as capivaras. Conversando com ele e outras pessoas que estavam no local fui aconselhado a procurar pouso num local próximo, recebendo mais dicas de lugares no arredores para visitar na manhã seguinte, antes de seguir viagem. Pois eis que chega a minha vez de ser atendido, ia começar a tirar as tralhas da moto para facilitar o serviço e o sujeito me informa que não havia necessidade, apenas me indicou que posicionasse uma tábua logo abaixo do cavalete da moto enquanto ele a erguia com as próprias mãos (estamos falando de cerca de 170 kg), nada tão significativo, considerando que fisicamente o amigo se parecia com o Brutus, rival do marinheiro Popeye. Bueno, fui atrás da pousada para descansar o esqueleto, deixei a moto na garagem e fui atrás de comida, óbvio! Saí a pé e encontrei o trailer de lanches da Sra. Nikita, ao lado da rodoviária de Chuí, uma uruguaia muito gente boa, que ficou encantada com a história de viagem. Apenas reforçando, todo cidadão uruguaio que já encontrei em minha vida é o típico "boa praça", com isto me recordei de uma situação ainda na cidade de Melo, antes de seguir viagem: havia um ginásio bem próximo ao local do encontro que disponibilizava banho e lugar pra ficar para quem não tinha barraca (para minha surpresa era banho com água quente, o que achei que era sacanagem dos caras quando entrei no banheiro e vi apenas os canos saindo da parede, sem chuveiros, mas realmente o lugar tinha aquelas caldeiras antigas que mantinham a água aquecida). Aproveitei a mordomia e pedi ao zelador se ainda poderia usar o chuveiro na tarde de domingo, o qual prontamente me indicou onde deixar a moto, praticamente dentro do ginásio para tomar meu banho tranquilo. Ao me despedir e informar que seguiria mais alguns quilômetros Uruguai adentro, agradeci pela acolhida e vesti uma camiseta clássica que tinha na época, com a estampa do Che Guevara, ele ergueu as mãos, exclamou a frase : "Usted está viajando com el hombre!" e me abraçou como um pai que se despede de um filho.
Quisera eu que todas as pessoas se tratassem com tamanho respeito e carinho, independente do grau de intimidade!
Mas enfim, voltando ao ponto anterior, dormi na "pousada" que de tão singela nem café da manhã oferecia (era só cama, tv, chuveiro e garagem), e na manhã seguinte, após descolar algum desjejum, cruzei novamente a fronteira (esqueci de comentar que havia um outro viajante numa Harley na mesma pousada, não cruzei por ele, só vi a moto e fui informado de que vinha de São Paulo e seguiria ao extremo sul da Argentina, e já me inspirei para viagens futuras). Parei na alfândega e informei que estava viajando e gostaria de cruzar para conhecer mais um pedaço do país vizinho e retornaria logo, o agente estranhou um pouco, mas quando lhe disse que estava de moto me deu permissão no mesmo momento.
Os pontos que me indicaram visitar foram: a praia de pescadores chamada Punta del Diablo (uma vida estilo Floripa-SC), a Laguna Negra (vejam pelo Google Earth, ela é realmente negra) e o Parque Nacional de Santa Teresa, onde se encontra o famoso "Fuerte de Santa Teresa", sendo resguardado pelas forças armadas e aberto a visitação, com várias praias e local de camping. Infelizmente, como já disse num outro momento, as fotos estão em algum HD, em alguma caixa, em algum lugar...
Gostaria de voltar a Punta del Diablo para passar uns dias,
a Laguna Negra é bacana pela beleza exótica, mas onde mais investi tempo foi em percorrer o Parque de Santa Teresa, composto por mais de 3.000 hectares e com mais de 2 milhões de árvores. Um dos acessos s fica em frente à Laguna e o outro acesso está 02 km adiante pela rodovia. Uma curiosidade, na "Ruta 9" há uma parte em que a rodovia fica muito mais larga, é um local para pousos de emergência (prometo que tão logo consiga resgatar as fotos farei uma atualização ou repostagem). Para terem ideia do quanto tempo investi rodando pelo parque, cruzei a fronteira de volta lá pelas 14 hs da tarde.
Cruzada a fronteira toquei pela estrada para pousar em Camaquã e cumprir uma promessa, um dos meus amigos de infância é o Italo Abdala, que se tornou um baita tatuador e havia tempos que queria me tatuar com ele. Seguindo por Santa Vitória do Palmar optei por não abastecer, apenas chequei a bagagem se estava tudo certinho e vi um grupo de RD's 350 passando pela estrada, algo que nunca mais vi na vida, saí do posto na intenção de alcançá-los pois estavam rodando em "velocidade de cruzeiro" mas logo começaram a rodar mais forte e obviamente sumiram em meio à paisagem.
Neste trecho de Chuí à Pelotas houve uma situação interessante, descobri que com o vento contra a Intruderzinha não passa de 80km/h (e aumenta consideravelmente o consumo)... Estava rodando na boa, curtindo um bom heavy metal nos fones de ouvido e de repente a moto "morreu", encostei, tirei o capacete e os fones e tentei dar partida mas só batia arranque, chequei a vela e mexi na torneira da gasolina, apenas girando da posição normal para a reserva e voltando à posição inicial. Consegui dar partida, coloquei o capacete de volta e segui por mais alguns metros, quando a motoca "morreu" novamente, foi quando olhei pro odômetro marcando 200 km (em motos sem indicador de combustível costuma-se zerar o odômetro parcial a cada abastecimento), me dei conta que o "problema" era a (falta de) gasolina, fiz um cálculo de cabeça e vi que o consumo havia baixado de 33 km/l (motor ainda amaciando) para 25 km/l... E pelo que me recordava o próximo posto estava há cerca de 55 km adiante! Mais um cálculo breve, 2 litros de gasolina da reserva, 25 km/l, eu chegaria bem próximo ao posto hehehehe Bom, passei a torneira pra reserva e segui pela estrada, mais uns km adiante e havia um caminhão baú rodando à minha frente, foi quando me dei conta de permanecer atrás dele e não sofrer tanto com o vento contra, situação que me permitiu chegar ao posto ainda com alguns mililitros de combustível no tanque. Abastecido, de volta a estrada, sol se pondo próximo à Pelotas, cair da noite e já estava mais próximo do destino. Cheguei em Camaquã, achei a casa da tia Conceição, conheci o seu esposo e fui tomar um belo banho, para depois jantar e relatar partes da aventura.
Dia seguinte fui procurar os conhecidos pela cidade e conhecer o estúdio do Italo, onde procurei inspiração em várias revistas enquanto clientes entravam e saiam, sem me agradar de nenhum desenho pronto, foi quando perguntei a ele como estava sua inspiração, pedindo um desenho estilo maori para a panturrilha. Ele respondeu positivamente e foi desenhar enquanto eu lhe pedi o computador emprestado para ver meus e-mails dos últimos cinco dias e dar notícias pelo finado Orkut, mal parei uns minutos e ele já veio com um esboço, me mostrou o desenho dizendo: "Vamos preencher aqui e aqui e aqui, mas não gostei desta parte de cima, vou mexer e já te mostro de novo.", já havia me agradado do desenho inicial, e logo em seguida ele veio com o final, ampliamos um pouco e combinamos as agulhadas para após o final do expediente. Aproveitei para visitar as lojas dos irmãos motoqueiros, Nader e Iasser, também amigos de infância, e mais algumas pessoas amigas da família. Final de tarde, voltei ao estúdio e após umas duas horas e meia de agulhadas estava pronta a tattoo para eternizar a lembrança da primeira viagem solo.
Essa foi a minha segunda tattoo e sempre me recordo do que comentavam sobre a dor ao tatuar, mas não me comentavam sobre a dor que permanece depois... Pra fazer eu fico de boa, mas no dias seguintes é que vou sentir, esta por exemplo doía, apenas, até a virilha...
Resumindo, no dia seguinte voltei na loja do Nader e comprei uma bermuda pois não tinha levado nenhuma na bagagem, e fiquei mais uns dias por Camaquã, dei uma atenção pra motoca antes de voltar a Porto Alegre e na semana seguinte subi a serra, fui visitar minha avó materna, num lugarejo conhecido como Mulada, próximo a São Marcos, distrito de Caxias do Sul, cuja estrada me proporcionou o primeiro "choque de realidade", próximo ao conhecido "Véu da Noiva", aquele ponto bem típico de serra, curvas com muretas de concreto e sem acostamento, um sujeito descia a via a pé balançando o capacete em uma das mãos, dei um jeito de parar e falar com o cara, imaginando que fosse algum acidente ou problema com a moto... Adivinhem... O rapaz voltava do trabalho numa Ybr, foi abordado, em movimento, por dois sujeitos numa moto Strada e o caroneiro lhe mostrou um revólver ordenando que parasse e cada meliante seguiu com uma moto em direções opostas... Como eu havia passado por uma viatura da Polícia Rodoviária havia poucos quilômetros, e com a minha bagagem não tinha como lhe dar carona, anotei a placa e voltei em busca da viatura, porém sem obter sucesso. Parei numa daquelas fruteiras de beira de estrada e pedi se tinham o contato do posto da PRF, entrei em contato, informei o ocorrido e segui adiante, passando pela viatura no sentido contrário, achando que haviam encontrado o rapaz, tendo em vista que havia um civil na carona, porém para minha surpresa a viatura sequer havia passado pelo cara, encontrei-o logo em seguida descendo a estrada, parei novamente, perguntei sobre a viatura e ele respondeu negativamente, então lhe passei o telefone do posto e ele disse que aguardaria um familiar que ia lhe buscar...
Triste realidade, motos de baixa cilindrada, especialmente Honda e Yamaha são visadas pelo mercado informal de peças e todo dia ocorrem roubos e furtos contra pessoas que batalham muito para ter sua motoca, restando muitas prestações por pagar e muitas vezes ficando até mesmo sem o seu "ganha pão"...
De momento era isso meus amigos, em breve retorno com um relato da minha situação atual que muitos ainda não tem conhecimento, a vida sobre duas rodas nunca foi tão presente como nos últimos 03 meses!
Baita abraço!