domingo, 13 de dezembro de 2015

Continuando a saga...

Buenas pessoal, todos em paz?!
Havia prometido continuar a última história, mas alguns contratempos e a correria pra ganhar o pão de cada dia atrasaram um pouco meus planos (vale dizer que desempregado é aquele que não tem emprego, o que não quer dizer que eu não tenha trabalho hehehehe). Pois então vamos ao que interessa, comentei que havia notado algo diferente na moto após efetuar as compras no free-shop na fronteira Chuy (Uruguai)/Chuí (Brasil), isto já no final da tarde, sendo que minha intenção era seguir até Camaquã para passar a noite na casa de uma tia. De volta a estrada visualizei a placa que identificava a fronteira entre os dois países, lembrando que havia ingressado por outra fronteira (Jaguarão/Rio Branco), e resolvi voltar alguns metros para fotografar a placa, fiz um registro só da placa, arranquei com a moto e novamente senti algo diferente, julgando ser a areia solta do acostamento, atravessei a rodovia, fiz outro registro incluindo a moto junto à placa e ao sair novamente com a moto identifiquei o problema... pneu furado! Visualizei uma unidade do Corpo de Bombeiros ainda no lado uruguaio, busquei informação de onde havia uma borracharia, que no castelhano se chama "gomeria", e segui empurrando a motoca com toda a bagagem - e compras - por alguns metros, contorna aqui, contorna acolá e encontrei a bendita gomeira, um barraco simples, com piso de terra e apenas um sujeito trabalhando com diversos clientes aguardando. Parei a moto e enquanto não chegava minha vez de ser atendido fui informado que o outro funcionário acabara de se machucar numa tarefa simples do ofício, mas que por alguma questão que não sei informar se houve falta de atenção ou de prática, levou-o a atingir o supercílio, com aquela sangria típica dos confrontos do lendário Rocky Balboa. O camarada iria afrouxar a porca do eixo de uma moto de trilha, e ao invés de fazer força empurrando a chave na posição horizontal em direção ao solo ele fez força puxando a chave na posição vertical, na sua direção, o que fez com que a ferramenta escapasse do seu controle, quase o levando a nocaute. Pois bem, só me restava aguardar. Neste instante contava a um senhor sobre a minha viagem e que pretendia seguir logo em seguida para passar a noite em Camaquã, porém este senhor era caminhoneiro e me alertou sobre o risco de percorrer o trajeto que corta a Reserva do Taim à noite, pelo perigo de atingir algum animal que eventualmente atravessa a pista, especialmente as capivaras. Conversando com ele e outras pessoas que estavam no local fui aconselhado a procurar pouso num local próximo, recebendo mais dicas de lugares no arredores para visitar na manhã seguinte, antes de seguir viagem. Pois eis que chega a minha vez de ser atendido, ia começar a tirar as tralhas da moto para facilitar o serviço e o sujeito me informa que não havia necessidade, apenas me indicou que posicionasse uma tábua logo abaixo do cavalete da moto enquanto ele a erguia com as próprias mãos (estamos falando de cerca de 170 kg), nada tão significativo, considerando que fisicamente o amigo se parecia com o Brutus, rival do marinheiro Popeye. Bueno, fui atrás da pousada para descansar o esqueleto, deixei a moto na garagem e fui atrás de comida, óbvio! Saí a pé e encontrei o trailer de lanches da Sra. Nikita, ao lado da rodoviária de Chuí, uma uruguaia muito gente boa, que ficou encantada com a história de viagem. Apenas reforçando, todo cidadão uruguaio que já encontrei em minha vida é o típico "boa praça", com isto me recordei de uma situação ainda na cidade de Melo, antes de seguir viagem: havia um ginásio bem próximo ao local do encontro que disponibilizava banho e lugar pra ficar para quem não tinha barraca (para minha surpresa era banho com água quente, o que achei que era sacanagem dos caras quando entrei no banheiro e vi apenas os canos saindo da parede, sem chuveiros, mas realmente o lugar tinha aquelas caldeiras antigas que mantinham a água aquecida). Aproveitei a mordomia e pedi ao zelador se ainda poderia usar o chuveiro na tarde de domingo, o qual prontamente me indicou onde deixar a moto, praticamente dentro do ginásio para tomar meu banho tranquilo. Ao me despedir e informar que seguiria mais alguns quilômetros Uruguai adentro, agradeci pela acolhida e vesti uma camiseta clássica que tinha na época, com a estampa do Che Guevara, ele ergueu as mãos, exclamou a frase : "Usted está viajando com el hombre!" e me abraçou como um pai que se despede de um filho.

Quisera eu que todas as pessoas se tratassem com tamanho respeito e carinho, independente do grau de intimidade!

Mas enfim, voltando ao ponto anterior, dormi na "pousada" que de tão singela nem café da manhã oferecia (era só cama, tv, chuveiro e garagem), e na manhã seguinte, após descolar algum desjejum, cruzei novamente a fronteira (esqueci de comentar que havia um outro viajante numa Harley na mesma pousada, não cruzei por ele, só vi a moto e fui informado de que vinha de São Paulo e seguiria ao extremo sul da Argentina, e já me inspirei para viagens futuras). Parei na alfândega e informei que estava viajando e gostaria de cruzar para conhecer mais um pedaço do país vizinho e retornaria logo, o agente estranhou um pouco, mas quando lhe disse que estava de moto me deu permissão no mesmo momento. 

Os pontos que me indicaram visitar foram: a praia de pescadores chamada Punta del Diablo (uma vida estilo Floripa-SC), a Laguna Negra (vejam pelo Google Earth, ela é realmente negra) e o Parque Nacional de Santa Teresa, onde se encontra o famoso "Fuerte de Santa Teresa", sendo resguardado pelas forças armadas e aberto a visitação, com várias praias e local de camping. Infelizmente, como já disse num outro momento, as fotos estão em algum HD, em alguma caixa, em algum lugar... 
Gostaria de voltar a Punta del Diablo para passar uns dias, 


a Laguna Negra é bacana pela beleza exótica, mas onde mais investi tempo foi em percorrer o Parque de Santa Teresa, composto por mais de 3.000 hectares e com mais de 2 milhões de árvores. Um dos acessos s fica em frente à Laguna e o outro acesso está 02 km adiante pela rodovia. Uma curiosidade, na "Ruta 9" há uma parte em que a rodovia fica muito mais larga, é um local para pousos de emergência (prometo que tão logo consiga resgatar as fotos farei uma atualização ou repostagem). Para terem ideia do quanto tempo investi rodando pelo parque, cruzei a fronteira de volta lá pelas 14 hs da tarde. 

Cruzada a fronteira toquei pela estrada para pousar em Camaquã e cumprir uma promessa, um dos meus amigos de infância é o Italo Abdala, que se tornou um baita tatuador e havia tempos que queria me tatuar com ele. Seguindo por Santa Vitória do Palmar optei por não abastecer, apenas chequei a bagagem se estava tudo certinho e vi um grupo de RD's 350 passando pela estrada, algo que nunca mais vi na vida, saí do posto na intenção de alcançá-los pois estavam rodando em "velocidade de cruzeiro" mas logo começaram a rodar mais forte e obviamente sumiram em meio à paisagem. 
Neste trecho de Chuí à Pelotas houve uma situação interessante, descobri que com o vento contra a Intruderzinha não passa de 80km/h (e aumenta consideravelmente o consumo)... Estava rodando na boa, curtindo um bom heavy metal nos fones de ouvido e de repente a moto "morreu", encostei, tirei o capacete e os fones e tentei dar partida mas só batia arranque, chequei a vela e mexi na torneira da gasolina, apenas girando da posição normal para a reserva e voltando à posição inicial. Consegui dar partida, coloquei o capacete de volta e segui por mais alguns metros, quando a motoca "morreu" novamente, foi quando olhei pro odômetro marcando 200 km (em motos sem indicador de combustível costuma-se zerar o odômetro parcial a cada abastecimento), me dei conta que o "problema" era a (falta de) gasolina, fiz um cálculo de cabeça e vi que o consumo havia baixado de 33 km/l (motor ainda amaciando) para 25 km/l... E pelo que me recordava o próximo posto estava há cerca de 55 km adiante! Mais um cálculo breve, 2 litros de gasolina da reserva, 25 km/l, eu chegaria bem próximo ao posto hehehehe Bom, passei a torneira pra reserva e segui pela estrada, mais uns km adiante e havia um caminhão baú rodando à minha frente, foi quando me dei conta de permanecer atrás dele e não sofrer tanto com o vento contra, situação que me permitiu chegar ao posto ainda com alguns mililitros de combustível no tanque. Abastecido, de volta a estrada, sol se pondo próximo à Pelotas, cair da noite e já estava mais próximo do destino. Cheguei em Camaquã, achei a casa da tia Conceição, conheci o seu esposo e fui tomar um belo banho, para depois jantar e relatar partes da aventura.

Dia seguinte fui procurar os conhecidos pela cidade e conhecer o estúdio do Italo, onde procurei inspiração em várias revistas enquanto clientes entravam e saiam, sem me agradar de nenhum desenho pronto, foi quando perguntei a ele como estava sua inspiração, pedindo um desenho estilo maori para a panturrilha. Ele respondeu positivamente e foi desenhar enquanto eu lhe pedi o computador emprestado para ver meus e-mails dos últimos cinco dias e dar notícias pelo finado Orkut, mal parei uns minutos e ele já veio com um esboço, me mostrou o desenho dizendo: "Vamos preencher aqui e aqui e aqui, mas não gostei desta parte de cima, vou mexer e já te mostro de novo.", já havia me agradado do desenho inicial, e logo em seguida ele veio com o final, ampliamos um pouco e combinamos as agulhadas para após o final do expediente. Aproveitei para visitar as lojas dos irmãos motoqueiros, Nader e Iasser, também amigos de infância, e mais algumas pessoas amigas da família. Final de tarde, voltei ao estúdio e após umas duas horas e meia de agulhadas estava pronta a tattoo para eternizar a lembrança da primeira viagem solo.




Essa foi a minha segunda tattoo e sempre me recordo do que comentavam sobre a dor ao tatuar, mas não me comentavam sobre a dor que permanece depois... Pra fazer eu fico de boa, mas no dias seguintes é que vou sentir, esta por exemplo doía, apenas, até a virilha... 
Resumindo, no dia seguinte voltei na loja do Nader e comprei uma bermuda pois não tinha levado nenhuma na bagagem, e fiquei mais uns dias por Camaquã, dei uma atenção pra motoca antes de voltar a Porto Alegre e na semana seguinte subi a serra, fui visitar minha avó materna, num lugarejo conhecido como Mulada, próximo a São Marcos, distrito de Caxias do Sul, cuja estrada me proporcionou o primeiro "choque de realidade", próximo ao conhecido "Véu da Noiva", aquele ponto bem típico de serra, curvas com muretas de concreto e sem acostamento, um sujeito descia a via a pé balançando o capacete em uma das mãos, dei um jeito de parar e falar com o cara, imaginando que fosse algum acidente ou problema com a moto... Adivinhem... O rapaz voltava do trabalho numa Ybr, foi abordado, em movimento, por dois sujeitos numa moto Strada e o caroneiro lhe mostrou um revólver ordenando que parasse e cada meliante seguiu com uma moto em direções opostas... Como  eu havia passado por uma viatura da Polícia Rodoviária havia poucos quilômetros, e com a minha bagagem não tinha como lhe dar carona, anotei a placa e voltei em busca da viatura, porém sem obter sucesso. Parei numa daquelas fruteiras de beira de estrada e pedi se tinham o contato do posto da PRF, entrei em contato, informei o ocorrido e segui adiante, passando pela viatura no sentido contrário, achando que haviam encontrado o rapaz, tendo em vista que havia um civil na carona, porém para minha surpresa a viatura sequer havia passado pelo cara, encontrei-o logo em seguida descendo a estrada, parei novamente, perguntei sobre a viatura e ele respondeu negativamente, então lhe passei o telefone do posto e ele disse que aguardaria um familiar que ia lhe buscar... 
Triste realidade, motos de baixa cilindrada, especialmente Honda e Yamaha são visadas pelo mercado informal de peças e todo dia ocorrem roubos e furtos contra pessoas que batalham muito para ter sua motoca, restando muitas prestações por pagar e muitas vezes ficando até mesmo sem o seu "ganha pão"... 

De momento era isso meus amigos, em breve retorno com um relato da minha situação atual que muitos ainda não tem conhecimento, a vida sobre duas rodas nunca foi tão presente como nos últimos 03 meses! 

Baita abraço!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Minha primeira moto!

Buenas pessoal, tudo em paz?!
Conforme prometido vou contar um pouco da minha "vida após a moto", situação que levou cerca de 08 meses entre a habilitação para moto e a efetiva compra da "Lucy (in the sky with diamonds)" - sim, para quem não sabe, tal como os barcos, as nossas motos costumam receber nomes, e há quem mande personalizar a pintura com a alcunha da "moça". Me recordo que eu estava completando 28 anos, se não estou enganado foi uma das últimas vezes em que conseguimos reunir família e amigos para comer umas pizzas em casa. Entre um bate-papo e outro com os amigos uma fugidinha no computador para mostrar ao meu irmão de convívio, o Proko, as opções de motos semi-novas com preços honestos, no caso a candidata mais forte era uma Intruder 125, 2007/2008, com baixa quilometragem (que mais tarde fui descobrir que não era lá assim tão baixa, nada demais, mas trocar um pneu que deu fim de vida com apenas 9 mil km não tem cabimento... coisas de "brasileiros 'espertos'" alterando odômetros...). A questão principal era a seguinte: meus pais nem podiam sonhar que eu estava comprando uma moto e eu, bem... eu tinha apenas uns R$ 300,00 para dar de entrada... Fui ao meu banco, fiz inúmeras simulações de financiamentos/empréstimos e descobri que só conseguiria 70 % do valor cotado pela chamada "Tabela FIPE"... Na época tinha uma namorada que ganhava um bom salário e me emprestou uma grana (paguei tudo certinho, como meus pais me ensinaram hehehe) e assim pude comprar a tão sonhada moto! A compra foi exatamente um mês após o falecimento do meu avô materno, o qual nunca teve nenhum veículo automotor em sua vida e acredito que ficaria feliz com a conquista do neto, o que não se aplica à sua filha e genro, não que não tivessem orgulho, mas o receio era muito maior!

Pois bem, 15 de Agosto de 2008, um pouco tarde, mas em boa hora, vou buscar minha motoca e já começo bem, paro na loja dos meus primos para orçar a instalação de um alarme corta corrente (guardem este item, falarei sobre ele qualquer hora...affff!!!!) e ao sair da loja não baixo a viseira e tampouco coloco o óculos de sol, subo uma avenida movimentada e me vem um daqueles formigões de asas, direto no cantinho entre o olho e o nariz... consigo subir a calçada e desligar a moto sem maiores problemas, mas levei uns 10 minutos para limpar o olho dos resquícios do pobre inseto... Pensa numa pessoa agoniada!
Bueno, uma coisa que ninguém conta é que moto é bem diferente de bicicleta pra andar no trânsito (óbvio), mas confesso que nos primeiros dias, ainda pegando a manha, cheguei a pensar comigo: "Que merd* que eu fui inventar de comprar moto?!?!" Mas isso foi apenas até eu ficar mais esperto e um certo dia precisar sair do trabalho na "hora do rush" e ir para uma consulta médica. A sensação de passar por entre o carros parados e me deslocar com muito mais agilidade foi um tanto quanto prazerosa, não posso negar, e desde então prefiro estar sempre sobre as duas rodas de uma motoca, tanto para rodar na cidade quanto para pegar a estrada.

Mas a situação mais marcante daquela época foi o fato que que meu brother, o Proko, e mais outros amigos mais recentes (Giuliano, Túlio, Ricardo, Vinícius, Matheus...) pretendiam viajar até o encontro de motos na cidade de Melo, no país vizinho Uruguai, distante cerca de 500 km de Porto Alegre, isso já mais ou menos planejado por eles antes mesmo de eu ter comprado a moto. Pois o que aconteceu é que chegou a época da viagem, Novembro de 2008, e simplesmente nenhum deles teve como viajar, um tinha um casamento fora do estado, outro recém tinha sido papai, outro não conseguiu folga e por assim foi... E eu já havia solicitado minhas férias, tinha tudo certo pra viajar, moto em dia, um barraquinha, colchão inflável, tudo certo. Pois eu fui sozinho, o "Seu Proko" passou na minha casa pra dar um apoio moral e ajudar na amarração da bagagem na motoca, pelo que me recordo até fez uma escolta por alguns km. Fiz uma viagem tranquila, parei diversas vezes, sem pressa, passei por Camaquã (lembram? Cidade onde morei na infância), encontrei uma tia e aqueles amigos que me emprestavam suas bicicletas, sendo que um deles se tornou tatuador e prometi que no retorno faria uma tatuagem com ele.

Nesta história de seguir sem pressa, tirando fotos, abastecendo em praticamente tudo que era posto que tinha pelo caminho (moto semi-nova, sem marcador de combustível, por segurança até saber a autonomia certa da "Lucy" foi deste jeito), cheguei em Melo no fim de tarde (esqueci de dizer que saí de Porto Alegre por volta das 08hs e 30 min da manhã), sem conhecer ninguém do meio motociclístico, encontrei apenas uma bike (sim, uma bicicleta, uma reclinada não muito comum de se ver por aí) do amigo Graxa que mora em Butiá (sim, ele pedalou cerca de 400 km)

Edimar da Silva "Graxa" e sua reclinada.
mas não estava junto da sua bike naquele momento. Cabe aqui um grande parênteses ao Graxa, um sujeito dotado de uma humildade tremenda, que participa de Desafios Individuais (lembram que comentei sobre os Audax no post anterior?!), muitas vezes dependendo da ajuda de terceiros que já o deixaram na mão, são provas que não tem premiação, mas que exigem o pagamento de inscrições para a manutenção das provas, e ele não possui um patrocinador/apoiador oficial, portanto se tu tem condições de dar uma força pra esse cara, com certeza não irá se arrepender, ele já pedalou muito mais do que muitos não chegaram a rodar de moto. Voltando a questão da minha chegada ao encontro, saí cuidando as bandeiras dos moto clubes, na intenção de ver algum de Porto Alegre, vi umas motos com placas de Porto Alegre, Viamão, Pelotas e Florianópolis-SC (uma Boulevard 800 com escape "JJ" do até hoje amigo Morales, um rondo lindo que ainda hoje me encanta só de lembrar), todos  num mesmo grupo, eram alguns dos "Cavaleiros da Liberdade", mas ainda segui fazendo o reconhecimento do local até chegar novamente ao local onde estavam os Cavaleiros, a moto apagou ao pegar um buraco no meio do gramado do camping, chamando a atenção deles, aproveitei pra descontrair e disse: " cansou a bichinha" e perguntei se estavam num grupo fechado, ao que me responderam que podia encostar por ali. Vejam que interessante, havia apenas um sujeito que regulava de idade comigo, os demais eram sexagenários, todos curtindo o fim de tarde e sem frescura em me ajudar a arrumar um local para arrumar a barraca, mesmo nunca tendo me visto na vida, com um detalhe que fiquei sabendo logo em seguida, um dos sujeitos, o Chico, morava a cerca de 3 quadras da minha casa e só fomos nos conhecer lá, 500 km distante de casa, coisas do mundo motociclístico. Curtimos a noite uruguaia com algumas pizzas e poucos chopes, apenas o suficiente para poder pegar no sono em meio ao burburinho do evento. No domingo, como em qualquer encontro de motos, o pessoal já acorda se organizando para retornar à estrada, muitos antes mesmo do almoço, especialmente por causa da distância.

Pois eis que o pessoal do grupo levanta acampamento e eu aproveito o tempo livre para pôr o papo em dia com meu amigo Graxa, o qual já conhecia o moto clube organizador do encontro e me sugere aproveitar para conhecer mais um pedaço do Uruguai. Com a ajuda de um dos integrantes do "Moto Maníacos" e o mapa do RS que geograficamente mostra uma boa parte do Uruguai decidi seguir viagem num roteiro que foi o seguinte: Saí de Melo na tarde de domingo, passei por Arbolito, um local histórico onde existe um mausoléu em homenagem aos soldados que guerrearam na "Batalha de Arbolito" 


onde constam placas indicando pelo campo afora onde foram travados cada um dos confrontos. Investi algum tempo registrando fotos que estão perdidas em algum HD por aqui... Com o cair da tarde segui viagem e fui parar na "Quebrada de Los Cuervos", uma reserva ecológica onde havia energia elétrica apenas na portaria. Detalhe, o sujeito que vos escreve não havia almoçado e na reserva havia apenas alimentos crus... Porém o zelador me indicou que procurasse pelo sr.
"Rossé" e sua família, pois eles ainda estavam no local após terem atendido uma excursão e deveriam ter algo para comer. Dito e feito, prontamente agilizaram um prato farto e "una cerveza" de litro, o que me satisfez e me ajudou a tombar cedo, cerca de 20 hs eu já estava dormindo, para no dia seguinte acordar cedo e fazer uma caminhada pela reserva. Outro detalhe: eu tinha dito que não havia luz, correto? Pois é, o chuveiro era uma espécie de serpentina de cobre, em cuja base se depositava uma porção de álcool para manter o calor e aquecer a água, que por sua vez era só um "fio d'água", ou seja, eu precisei deslocar a bandeja do álcool para não tomar um banho escaldante com pouca água... Outra situação, eu levei barraca e colchão, mas não tinha lona para proteger do sereno... Restaram duas opções, montar a barraca atrás de um casebre de barro na intenção de me resguardar do vento, ou debaixo de um carroção, cujas rodas tinham a minha altura (1,70 m), o qual foi minha (sábia) escolha.


Após a caminhada matutina segui viagem até a cidade de "Treinta y tres", passando por "José Pedro Varela", "Lascano" e chegando ao Chuy, que faz fronteira com o Chuí/Brasil e por consequência onde há os cobiçados "free shops". fiz algumas compras e senti algo diferente na moto, o que deduzi ser o peso dos itens adquiridos, porém não era... E eu só vou contar o que aconteceu numa próximo postagem, pois não foi resolvido no dia e rendeu mais algumas visitas no trajeto...


Até a próxima!

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Recordações

Buenas pessoas, tudo em paz?! 
Como vocês já viram resolvi relatar um pouco da minha história sobre rodas (especialmente me des-equilibrando sobre duas), pois desde que o homo sapiens a inventou são raros os casos em que alguém vem ao mundo sem ter se deslocado sobre algo que tenha rodinhas e quase certo que vai partir desta pra melhor da mesma forma...

Minha história fora da barriga da mãe começa na tarde de 11 de Agosto de 1980,
Cartaz feito pelo meu velho para anunciar minha chegada.
mas eu só tenho lembranças a partir de 1985, quando a família morava na cidade de Viamão (região metropolina de Porto Alegre-RS), me recordo especialmente de um triciclo de metal, vermelho, tipo aquele usado pelo boneco do filme “Jogos Mortais”, depois um buggy amarelo à pedal que era a alegria dos vizinhos, uma volta pra cada um, até o dia em que quebrou uma roda e não teve mais conserto,  e por fim uma daquelas imitações baratas de “velotrol” de algum super-herói, tudo de plástico que, obviamente, não durou muito tempo... Naquela época, para o deslocamento da família, meus pais tinham um Dodge Polara 1800, ano 1973, cinza, o qual eu achava que tinha nos levado com parte da mudança quando fomos morar na cidade de Camaquã, distante cerca de 100 km da capital gaúcha, mas conversando com ele na verdade fomos num Corcel I, vermelho, que pifou no meio do caminho.... Mas sei que logo o “Doginho” foi pra reforma e meu pai comprou uma bicicleta para nos deslocarmos, uma “Barra Circular”, lembro que ia na garupa enquanto ele empurrava a bicicleta, de mão dada com minha mãe, foi praticamente nesta época que descobri o meu (des)equilíbrio...

Primeira lembrança boa de 1986, já em Camaquã, uma moto CG, de cor marrom, em tom metálico, propriedade do irmão de criação do meu coroa, o finado tio Ozí, muitos passeios de moto sem capacete, em que a minha segurança era preservada na tentativa de abraçar por completo a pança do tio (meus bracinhos não venciam a circunferência abdominal daquele sujeito bonachão que dizia: “Segura firme!” e saía feliz da vida).

Finado tio Ozí, sua motoca (descobri a razão de eu gostar tanto desse tom de marrom) e eu banguela.

Mas vamos a minha primeira tentativa desequilibrada: uma Berlineta azul, aro 16, de alguma vizinha, numa leve lomba (descida, para quem não é gaúcho) na rua de casa, consegui manter o equilíbrio... mas não a trajetória... naquele pavor típico de piá, me fui à parede da segunda casa da rua... Apenas alguns esfolados, sobrevivi! Algumas semanas depois uma Caloi Cross, de um vizinho maior, banco numa altura maior do que minha estatura exigia, ponta dos pés para alcançar os pedais, meu velho me segurando e eu citando repetidas vezes a frase típica “Não me solta pai! Não me solta pai!”, mas quando percebi estava muitos metros longe dele, quase no fim do beco onde morávamos, consegui parar e descer sem cair, só não consegui subir de volta e voltei empurrando :-P

Depois disso foram muitos passeios de moto, sempre agarrado na pança do tio, pois fomos morar no centro da cidadezinha, e quando não estava na garupa da “Barra Circular” estava na garupa do tio. Neste outro endereço fiz amizade com dois vizinhos que moravam em frente, o Ítalo, que tinha uma Monaretinha marrom aro 16, e o Nader que tinha a famosa BMX, aro 20, ambas a minha disposição, e também foi nesta época que montamos, os três, um carrinho de lomba, mesmo sem ter nenhuma lomba por perto, nos revezávamos empurrando pelas calçadas :-D

Só fui ter minha primeira bicicleta em 1991, já morando novamente em Porto Alegre, uma Monareta verde, aro 20, fabricada em 1980, com freio contra-pedal, a qual era motivo de chacota para alguns daqueles que tinham suas “Caloi Cross” e “Bmx”, mas também motivo de tanto orgulho que eu a possuo até hoje, inclusive aguardando uma restauração, mas isto é assunto pra outra hora. Pois bem, a Monareta foi o primeiro passo, ou melhor, a primeira pedalada :-D para minha autonomia fora das “asas protetoras” dos meus pais, com ela desbravei os bairros próximos onde morávamos, e em seguida, 1992, fomos morar no local onde permanecemos por mais de 20 anos. Já dominava a arte de pular cordões de calçadas, ensaiava algumas empinadas e um belo dia resolvi descer um barranco de uma praça próxima de casa, tão íngreme que o pessoal sentava num papelão e descia deslizando na grama (famoso ski-bunda), e eu soltava o peso no freio contra pedal e mesmo assim a bicicleta “descia à milhão”, repeti algumas vezes até que numa dessas tinha um tijolo pela frente, lembro de levantar voo e aterrissar de lado, ficando com a roupa toda verde de deslizar pela grama... Nada demais, “só o susto”! Foi com esta mesma Monareta que aprendi a consertar bikes, meu pai me ensinou algumas coisas e outras fui aprendendo de curioso, só não tomei vergonha na cara e até hoje nunca me prestei a aprender a centrar uma roda...

Mas adiante ganhei uma Caloi Cross Freestyle II, verde claro, quase nova (já tinha o compromisso do trabalho no comércio dos meus pais, o coroa não me dava um salário propriamente dito, mas sempre dizia: “O que tu precisar tu me pede.”), com ela aprendi a voar, literalmente, usando um desnível entre as calçadas dos vizinhos próximos como impulsão, lembro da cara de pavor de alguns vizinhos e do espanto de um outro garoto que tinha quase a mesma idade e logo aprendeu a repetir os saltos. Boas lembranças, mas também a pior lembrança da infância: na noite do meu aniversário de 13 anos, estava numa esquina a poucos metros de casa, vi um cara numa bicicleta, uma “Light” branca com peças vermelhas, e outro a pé chegarem perto perguntando sobre o pneu dianteiro da minha bike (era novinho, com os chamados cabelinhos), desconversei sentindo a maldade e atravessei a rua, porém era uma avenida de grande movimento e não pude atravessar de volta na frente de casa, fui até a faixa de pedestres mais adiante para atravessar  e quando chegava perto do local dos meus gloriosos saltos ví os dois caras voltando na contramão, um deles de pé na garupa, saltou direto em mim, fomos ao chão e dei um jeito de segurar a bike, era o cara puxando de um lado e eu de outro, mas entre socos e pontapés fui vencido e o f.d.p. levou a bicicleta que fazia minha alegria... Corri gritando até a frente de casa (meus pais tinham uma lancheria que ficava aberta até certa hora da noite pra atender os tiozinhos bebedores de trago) e para o meu azar quiseram todos entrar no carro com o meu pai pra irem atrás dos meliantes... claro que perderam tempo e nem sinal dos caras...

Passado isso ganhei outra bike algum tempo depois, mas era uma coisa tosca, daquelas que algum infeliz pintou a pincel, aros, raios e cubos pintados sem desmontar, no pior tom de marrom “puxa-puxa” que alguém possa imaginar (mas fez a alegria da minha irmã mais velha, que usou ela algum tempo e depois vendeu por alguns trocados)... Felizmente tinha um vizinho que comprava peças e montava as chamadas “montain bike”, meu pai comprou uma delas e aí sim passei a pedalar cada vez mais longe de casa, até o ponto de passar as tardes de domingo inteiras fora, pedalando até a zona sul da cidade, passando por todos os parques, sempre reunindo os amigos da escola, ou os amigos que moravam na mesma quadra, isso entre meus 13 aos 16 anos. Depois do final do colégio e com os amigos mais velhos seguindo outras rotinas passei a pedalar sozinho, todas noites depois do trabalho, cheguei a pedalar 50 km por noite no meu auge, porém não tinha noção de seguir dietas e queimava muita massa muscular, pesava 62 kilos com a altura de 1,70 m. A bike era o meu meio de transporte também, tive outras “montain bikes” enquanto ainda trabalhava com meus pais, uma estragava e eu ganhava outra um pouquinho melhor, chegando numa época que não tinha mais bicicletas funcionando, ganhei uma do meu primeiro patrão, sabem aqueles casos em que o sujeito tem uma bike atirada num canto e não usa? Foi esse o caso. Primeiro ele me emprestou e depois disse que eu podia ficar com ela. Mais adiante meu segundo patrão tinha uma Caloi 10 na mesma situação, ofereci para comprá-la e a esposa dele disse que deixasse por lá pois eles tinham os filhos que podiam querer usar (realmente um deles usou, e muito! E quando decidiram me doar a bicicleta já tive que ir direto pra uma oficina pois precisava de pneus e outros reparos). Neste meio tempo, como eu tinha espaço pra guardar as bicicletas dos vizinhos, sempre que alguma das minhas estragava e eu não tinha paciência ou grana pra consertar, acabava usando alguma outra emprestada, e também entre um namoro e outro passei alguns períodos sem pedalar. Me lembro ainda de uma fase rebelde da adolescência, havia arranhado a pintura de um carro do meu pai, queria tirar a habilitação de motorista mas entre os desentendimentos fui advertido que não iria pegar o carro mesmo depois de habilitado, na época um Escort prata, 1994, com cerca de 04 anos de uso (um dos carros mais novos que meu coroa já teve), pois foi entre uma discussão e outra que peguei o dinheiro que era para a Auto Escola e comprei uma bicicleta nova, a única que comprei zero até hoje, lembro que meu amigo Prokopiuk comprou uma igual, fomos de ônibus buscar uma e depois outra, pois pegávamos no depósito da loja, ainda desmontadas, para depois agendar com o montador autorizado (senão perdia a garantia). Em resumo, cheguei num ponto que eu tinha cerca de 08 bicicletas em casa, eu trabalhava numa franquia dos Correios e fiquei sabendo da campanha do “Papai Noel dos Correios”, fui ver as cartas das crianças, li uma, pedia uma bicicleta para dividir com o irmão, li outra, pedia uma bicicleta pra ir pra escola, li outra e mais outra e todas que pediam bicicletas fui separando, então pedi autorização pro meu amigo Lourenço, que era proprietário de uma das bikes velhas que tinha em casa e pro meu pai pois uma das bikes era da minha irmã mais nova (que até hoje não aprendeu a pedalar, infelizmente... Confesso que sinto um pouco de culpa, se ela tivesse a oportunidade de conhecer a vida sobre uma bike provavelmente não teria decidido virar freira...) mas enfim, catei 05 bicicletas, levei pra revisão e larguei num dos Centros de Distribuição dos Correios que serviu para intermediar o transporte e posterior entrega às crianças. Me senti feliz em poder proporcionar isto para aquelas crianças, mesmo desconhecidas, mas mais tarde me dei conta de que tinha amigos próximos que também teriam ficado felizes se ganhassem uma bicicleta mesmo velha, inclusive um deles usou umas delas para se locomover durante um bom tempo pois estava numa situação financeira econômica delicada, depois melhorou um pouco e me devolveu a bike, que ficou parada em casa... Com isto aprendi a olhar mais para quem está próximo da gente, pois não adianta estender a mão a um desconhecido e negligenciar que está ao teu lado. Dizem que se conselho fosse bom não seria de graça, mas eu lhes aconselho, reflitam sobre isso.

Entre estas idas e vindas, uma namorada e outra, parei de pedalar e engordei 10 kilos, voltei a pedalar, consegui manter uma rotina de treinos e participei de 04 desafios individuais, no formato conhecido como AUDAX, foram 03 desafios de 200 km e outro de 300 km, que ficam pra ser relatados num outro momento, só digo que tive mais duas bicicletas e ainda as mantenho, junto da Monareta e uma outra que resolvi montar após catar tudo que tinha sobrando em casa...


Enfim, usei bicicleta até os meus 28 anos, pensei em montar uma bike bacana pra competir em corridas de aventura e coisas do tipo, porém na metade da lista de peças a conta estava em R$ 2.500,00, foi quando finalmente decidi comprar uma moto. Detalhe, tinha cerca de R$ 300,00 disponíveis e meus pais nem podiam ouvir falar em moto, era voto vencido, “moto é muito perigoso” eles diziam, mal sabiam eles do perigo que era pedalar pelo trânsito de Porto Alegre... Mas este relato fica para a próxima postagem, com o compromisso de que o foco será “a vida após a moto”. 
Abraço!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Opa, tudo em paz?!

Opa, tudo em paz?! Antes de prosseguirmos com mais assuntos veja se tu te identificas com alguma dessas situações ou se pelo menos elas aguçam tua curiosidade:

- Tem lembranças remota de uma infância bacana;
- Te esfolou aprendendo a te equilibrar em duas rodas;
- Aprendeu a andar de bicicleta na magrela de um vizinho;
- Teus familiares nem querem pensar em te ver numa moto;
- Comprou a primeira moto com dinheiro emprestado de uma namorada, as moedas do cofrinho e mais um financiamento do banco;
- Jamais viajaria sozinho de moto;
- Jamais viajaria de moto acompanhado;
- Nunca imaginou viajar de moto 125... Ainda mais por 10 dias seguidos;
- Jamais viajaria de moto... “Tá loco?!”
- Já ficou sem gasolina num lugar que não tem nada em volta;
- Perdeu uma balsa por causa do vento contra;
- Furou um pneu na estrada e teve que arranjar onde dormir, e ao invés de reclamar aproveitou para conhecer mais lugares na região onde estava;
- Aiaiai uiuiui... Como vou sair de moto quando chove?
- Motoclube? Bando de cara mal encarado e brigão?
- Andar de moto a semana toda e ainda precisar andar de moto no final de semana?
- Desempregado e com uma moto na garagem?
- Motoboy? Aquele cara que eu falo mal no trânsito e agradeço muito quando chega com meu rango ou me quebra um galho quando eu tô encrencado
- Sonha em ter uma moto
- Sonha em ter uma moto customizada
- Chora ao lembrar da moto original que nunca te deixou na mão
- Acha que nunca vai conseguir comprar aquela moto dos sonhos
- Só pensa em moto
- Só fala em moto
- Respira moto?

Bueno, então te aprochega, toma assento, prepara um mate, um café ou abre aquela gelada e sinta-se em casa! Só não tire a roupa! Ou tire, só não precisa divulgar imagens!

Procurarei relatar aqui minha vivência neste mundo sobre rodas, seja uma, duas, três, quatro, seis, doze...

Quem sabe tu não te identifica? Ou toma coragem pra levantar do sofá?

Bora lá! Em breve postagens de fundamento, ou não... Relacionadas ao que consta acima, ou nada a ver também, eu que inventei isso, vai que alguém me pede pra escrever sobre algo, vai saber ...

Até logo mais!